17/05/2012 | SUNDAY KUSTOM MEETING
A tribo que se encontra sob o viadutoApaixonados por carros antigos, motos Harley e "rockabilly" criaram um alegre ponto de encontro
Notícia publicada na edição de 17/05/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 003 do caderno Motor - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Andrea Alves
No rastro de motos e carrões, um movimento começa a criar força em Sorocaba. O Sunday Kustom Meeting surgiu despretensiosamente como um encontro de apaixonados por carros antigos, mas depois de dois anos, já se tornou praticamente um movimento cultural que tem como identidade o rockabilly, um estilo de música e de se vestir que brotou nos mesmos anos idos das carangas. Algo semelhante, no sentido do encontro de motos e carros históricos, acontece em São Paulo, quando sócios de um clube de carros antigos se encontram na Estação da Luz todo primeiro domingo do mês. Em Osasco, há o Encontro dos Quadrados, com gente que amante carros já considerados antigos como Gol, Voyage e Fiat 147. Outros eventos ainda acontecem em Campinas. Mas talvez não tenham sido espontâneos como o que está acontecendo por aqui: os participantes não são sócios, não são chamados. Há cuidados, mas não frescura.
Realizados no segundo domingo de cada mês, os encontros começaram a ser organizados por Jefferson Fernandes e Paulo César Soares, o PC, há dois anos. O primeiro proprietário da Hot Parts, oficina que trabalha com importação de peças e customização e restauro de carros e motos antigos, e o segundo dono da Old Kick, que faz funilaria e pintura de carros antigos e restaura também Harley-Davidson. Situadas na rua Hermelino Matarazzo, as oficinas que ficam embaixo do viaduto Jânio Quadros são vizinhas. Como eles acumulam muitas amizades com quem dividem esse interesse e amor por antiguidades em carros, começaram a reservar os domingos de manhã para um encontro de amigos, carros e motos. Nunca houve por parte deles qualquer tipo de divulgação sobre os encontros.
Um detalhe, quem diria, colocaria pimenta nessas reuniões. "Como o mato ao lado da linha do trem (eles se reúnem em frente à escola Matheus Maylaski) estava baixo. Então as pessoas que passavam na avenida Afonso Vergueiro viam os carros e motos parados e vinham ver, apreciar, trocar ideias. Assim foi indo. Foi crescendo. Pessoas de outras cidades também souberam dos encontros e começaram a participar porque ninguém que tem um carro ou moto legal quer deixá-lo estacionado na garagem", comentou Jefferson.
Apesar de ter tomado proporções muito além do imaginado, Jefferson e PC avisam que o movimento todo tem hora para começar e acabar e que o lugar é ponto de passeio de família. "O encontro começa por volta das 8h30 da manhã e não passa das 13h. Primeiro porque é domingo, dia de ficar com a família e depois porque não queremos atrapalhar a vida de quem mora aqui". Nada ali é burocrático - é só chegar e participar - mas como muitas pessoas são envolvidas, alguma organização foi imposta para manter a ordem. Veículos de visitantes ficam estacionados nas ruas que dão acesso ao local ou na rua de entrada à escola. No centro, bem embaixo do viaduto, ficam apenas as estrelas da festa: Mavericks, Cadillacs, caminhonetes Ford, motos de os estilos, marcas e idade.
Nada de arruaça
Luciano Carvalho, 30, bate cartão ali nos encontros, sempre acompanhado do Impala Rabo de Peixe ano 1960, que ele nem sonha em vender, pelos menos por enquanto, graças à paixão que nutre por essas antiguidades. "Acho que é herança genética. Meu pai passou isso pra mim". Ali ele gosta de bater papo com os amigos, ver as novidades que aparecem por lá - como um Maverick branco estacionado pela primeira vez no Sunday Kustom Meeting. Mas além de loucos por tudo que tem duas ou quatro rodas, nesses dois anos de evento, o espaço passou a ser visitado por artesãos e comerciantes que levam até o local um pouco de seus trabalhos que remetem a essa cultura, como pequenas esculturas de motocicletas, carros e também camisetas, botons, vestimentas em couro e outros objetos. Até barraquinhas de alimentação são instaladas no local. PC acrescenta: "acabou de abrir uma loja de roupas nesse estilo rockabilly aqui no local e um estúdio de tatuagem será montado aqui. É bem interessante o que está acontecendo nessa região".
O que não tem vez mesmo, frisa Jefferson, é gracinha. "Não é lugar nem hora para gente vir encher a cara, cantar pneu", avisa. A qualquer sinal de ânimos levemente mais alterados, ele puxa alguém de canto e bate um papo que é manter tudo sob controle. "Motociclista é taxado como encrenqueiro, mas aqui nunca tivemos uma briga". Dono de um Camaro amarelo ano 71 - "sabe aquele do Transformers? Sim, o BumbleBee", empolga-se Jefferson, ele diz que sua filha Olivia, de dois anos, também é uma das frequentadoras do local. Assim como as filhas de PC, que tem um Cadillac e um Chevy Malibu que vez ou outra podem ser vistos durante o encontro.
A entrada no local é franca e se der sorte dá pra dar uma espiadinha nos carros que estão nas oficinas, alguns em estado deplorável ainda, outros tinindo de novos. Mas é só uma espiadinha e se der sorte mesmo porque num evento que reúne uma média de 600 pessoas e que numa edição já chegou a ter quase 2 mil visitantes/participantes, quem é vai controlar o êxito diante de carros raros e que vêm de toda parte do Brasil para serem restaurados em Sorocaba por Jefferson e PC? "Ah, não dá para abrir, não", avisam. Jefferson, que era mecânico de carro de corrida primeiramente, rendeu-se ao ronco do motor V8, estrela de quase todos os eventos, seja de corrida ou de exposição, e resolveu se especializar em veículos com essa motorização, estendendo posteriormente os negócios também para outros carros antigos. PC era um verdadeiro apaixonado por velharia há uns 25 anos e recorda quando importou dos EUA uma moto Harley usada e arrematada num leilão. "Veio toda desmontada". Foi justamente o trabalho dedicado à montagem dessa moto que deu origem aos trabalhos de sua oficina.
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