A banda saltense HELLGRASS estreou em dezembro de 2010 e tem obtido significativos avanços em sua jovem carreira. Os constantes acessos no myspace sempre vêm seguidos de elogios e os espectadores dos seus primeiros quatro shows sempre têm ótimas palavras em favor da banda pela qualidade do repertório e da execução musical, além da força de vontade dos garotos. Isso também vem seguido de um grande apoio midiático local e, em breve, regional. Com tantas qualidades, portas têm se aberto para que a banda seja convidada a tocar em outras cidades. E em algumas portas fechadas, faço questão de bater e apresentar a banda.
Como me propus a ajudar a banda a se desenvolver, tenho procurado expandir seus horizontes e, nestas buscas, acabei me deparando com alguns assuntos preocupantes relativos à “profissionalização” da banda – assuntos que já havia me deparado sob o ponto de vista de produtor de eventos, mas nunca analisado sob o ponto de vista do músico.
As bandas têm três vias para se apresentar, os bares, os festivais/eventos públicos e as casas de show. Para mim, essas oportunidades estão em ordem de importância.
Nos bares, a situação é injusta. O bar tem o grosso da sua renda na venda de bebidas e alimentos. Poucos bares investem em qualidade de som ou qualidade de músicos. O objetivo principal é encher a casa e vender mais bebida e mais comida. Assim, eles encaram os músicos como empregados eventuais, sem qualquer respeito.
Nos bares, se o músico pede para regular o som, ele é fresco. Se o músico pede consumação, é folgado. Se pede VIP, vai descontar do cachê. Se a casa não encheu, a culpa é do músico e isso também vai reduzir o cachê, chegando mesmo ao calote. Isso porque o músico é apenas um chamariz de consumidores e os bares querem focar em consumo. É a lei do mercado. Não digo que os bares estejam errados, afinal, essa é a atividade comercial deles: vender produtos de consumo. Tanto que são poucos os bares que investem em equipamentos de som respeitáveis ou sequer na divulgação de suas atrações musicais.
A questão do cachê é sempre controversa. O primeiro cachê, às vezes, nem existe. Os bares convidam a banda para se apresentar uma vez sem cachê – para ver como o público vai aceitar. Quando muito, oferecem uma consumação mixuruca e uma ajuda de custo para o combustível. Outra proposta indecente é a apresentação musical em troca de porcentagem de bilheteria. A bilheteria neste caso é exatamente igual um bilhete de loteria. Se o bar é na cidade dos músicos, está tudo bem, dá para levar gente. Mas e quando o bar fica fora de sua área? A banda acaba muitas vezes PAGANDO para tocar. Isso acontece muito com bares no interior, pois geralmente os cachês na capital paulista são fixos e maiores.
No final, como já dito, se não houve um público considerável, o músico vai ter que ouvir a velha ladainha na hora de receber o cachê. Não importa se o tempo estava ruim, se havia outros eventos de peso na mesma data, se o bar não investiu nem um pouco na divulgação do evento – a casa vazia é sempre culpa da banda. Isso é engraçado e contraditório no ponto em que, se o bar tem por objetivo comercial vender bebida e comida, o público deveria estar ali para consumir mesmo sem banda. Como um bar vazio pode ser culpa da banda? Só se o público fosse embora sem pagar couvert por considerar a banda muito ruim... Como consumidor, eu já fiz isso e me deu um problema que nem lhes conto...
Na outra mão, se a casa encher por conta da banda, duvido que se ofereça um bônus para a banda relativo ao aumento do consumo da casa. Enfim, nos bares, a regra do trabalho em equipe sempre é “EU ganhei, NÓS empatamos e VOCÊ perdeu”.
Isso reflete duas coisas: mesquinhez dos bares e amadorismo dos organizadores. Neste ponto, faço o mea culpa. Tenho organizado eventos desde 2005 e, na última semana, tenho me sentido muito desestimulado em continuar, porque percebi que, na nossa área cultural, é impossível continuar a fazer isso por amor e sem pôr dinheiro do bolso. As bandas acabam tendo que tocar por muito pouco e agradeço por ter sempre encontrado bandas de muita qualidade e dispostas a fazer de tudo para colaborar. As que não estavam dispostas a colaborar, simplesmente não tocavam e a amizade continua a mesma.
Nesses casos, se as bandas se tornam colaboradoras, o público continua a ser apenas público, e não os parceiros e apoiadores que devem ser. Salvo raríssimas exceções, são poucos os que divulgam os flyers e cartazes de suas bandas e eventos favoritos pelos canais de relacionamento social. Não custa muito reencaminhar um email de um show para seu grupo de amigos ou postar o flyer no seu orkut, facebook, fotolog ou que seja. Quem tem a ganhar com isso é apenas o próprio público, que vai encontrar uma casa cheia de amigos, uma banda estimulada a tocar e um produtor pronto para planejar um próximo evento ainda melhor, confiante na repercussão.
No fim, toda a questão das bandas nos bares se resume a isso: maior consideração dos donos de bares pelo produto musical, maior profissionalização e empenho dos produtores de eventos e maior apoio do público na divulgação dos eventos.
Bom, eu falei que as bandas têm três vias para se apresentar, ou seja, os bares, os festivais/eventos públicos e as casas de show, certo? Se você quer saber minha opinião a respeito dessas outras categorias, acesse o blog durante a semana. E se isso que escrevi até agora mexeu com sua consciência, reencaminhe.
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